A versão Portuguesa da Encíclica "Laudato Si"está disponível gratuitamente através do link. Foi praticamente ignorada pela nossa imprensa. As breves referências que foram feitas apresentaram-na como um texto de alerta face às alterações climáticas e pouco mais.
Mas na realidade, a Encíclica é uma violenta crítica a este capitalismo financeiro, selvagem, que tem mais poder que os Estados, e que tudo destroi, a começar pelo ambiente.
Um texto que vale a pena ler na íntegra (mais uma vez através do link http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html), mas deixo algumas citações para abrir o apetite.
Depois de ler estas citações percebe-se melhor porque na muy conservador Fox News já consideram o Papa como a pessoa mais perigosa do planeta.
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Enquanto a qualidade da água
disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se
privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do
mercado.
Pag 26
*
Os impactos ambientais poderiam afetar milhares de milhões
de pessoas, sendo previsível que o
controle da água por grandes empresas mundiais se transforme numa das
principais fontes de conflitos deste século.
Pag 27
*
Quando se propõe uma visão da natureza unicamente como objeto
de lucro e interesse, isso comporta graves consequências também para a
sociedade. A visão que consolida o
arbítrio do mais forte favoreceu imensas desigualdades, injustiças e
violências para a maior parte da humanidade, porque os recursos tornam-se
propriedade do primeiro que chega ou de quem tem mais poder: o vencedor leva tudo.
Pags. 64 e 65
*
A tradição cristã nunca reconheceu
como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de
propriedade privada
pag 73
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O paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio
também sobre a economia e a política. A economia assume todo o desenvolvimento
tecnológico em função do lucro, sem prestar atenção a eventuais consequências
negativas para o ser humano. A finança
sufoca a economia real. Não se aprendeu a lição da crise financeira mundial e,
muito lentamente, se aprende a lição do deterioramento ambiental.
Pag 85
*
Aqueles que não o afirmam em palavras defendem-no com os
factos, quando parece não preocupar-se
com o justo nível da produção, uma melhor distribuição da riqueza, um cuidado responsável
do meio ambiente ou os direitos das gerações futuras. Com os seus comportamentos,
afirmam que é suficiente o objetivo da maximização dos ganhos. Mas o mercado,
por si mesmo, não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão
social.
Entretanto temos um «superdesenvolvimento dissipador e
consumista que contrasta, de modo inadmissível, com perduráveis
situações de miséria desumanizadora», mas não se criam, de forma suficientemente
rápida, instituições económicas e programas sociais que permitam aos mais
pobres terem regularmente acesso aos recursos básicos
pag 86
*
Isto impede de individuar caminhos adequados para resolver os
problemas mais complexos do mundo atual, sobretudo os do meio ambiente e dos
pobres, que não se podem enfrentar a partir duma única perspetiva nem dum único
tipo de interesses.
Pag 87
Deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política,
um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham
resistência ao avanço do paradigma tecnocrático.
Pag 87 e 89
*
A cultura do relativismo é a mesma patologia que impele uma
pessoa a aproveitar-se de outra e a tratá-la como mero objeto, obrigando-a a
trabalhos forçados, ou reduzindo-a à escravidão por causa duma dívida. É a
mesma lógica que leva à exploração sexual das crianças, ou ao abandono dos
idosos que não servem os interesses próprios. É também a lógica interna daqueles que dizem: «Deixemos que as forças
invisíveis do mercado regulem a economia, porque os seus efeitos sobre a
sociedade e a natureza são danos inevitáveis»
Pag 95
*
O trabalho deveria ser o âmbito deste multiforme
desenvolvimento pessoal, onde estão em jogo muitas dimensões da vida: a
criatividade,a projetação do futuro, o desenvolvimento das capacidades, a
exercitação dos valores, a comunicação com os outros, uma atitude de adoração.
Por isso, a realidade
social do munda atual exige que, acima dos limitados interesses das empresas e
duma discutível racionalidade económica, «se continue a perseguir como prioritário
o objetivo do acesso ao trabalho para todos»
Pag 98 e 99
*
Ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório
para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes
uma vida digna através do trabalho.
Pag 101
*
A simples proclamação da liberdade económica, enquanto as condições
reais impedem que muitos possam efetivamente ter acesso a ela e, ao mesmo
tempo, se reduz o acesso ao trabalho, torna-se um discurso contraditório que
desonra a política.
Pag 101
*
Constata-se
uma concentração de terras produtivas nas mãos de poucos, devido ao «progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, em consequência da
perda das terras cultivadas, se viram obrigados a retirar-se da produção
directa»
Pag 104 e 105
*
Muitos especialistas estão de acordo
sobre a necessidade de dar prioridade ao
transporte público. Mas é difícil que algumas medidas consideradas
necessárias sejam pacificamente acolhidas pela sociedade, sem uma melhoria
substancial do referido transporte, que,em muitas cidades, comporta um
tratamento indigno das pessoas devido à superlotação, ao desconforto, ou à
reduzida frequência dos serviços e à insegurança.
Pag 119
*
Por fim, o bem comum requer a paz
social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem, que não se realiza sem uma atenção particular à
justiça distributiva, cuja violação gera sempre violência. Toda a sociedade –
e, nela, especialmente o Estado – tem obrigação de defender e promover o bem
comum
pag 121
*
Enquanto aguardamos
por um amplo desenvolvimento das energias renováveis, que já deveria ter começado, é legítimo optar pelo mal
menor ou recorrer a soluções transitórias. Todavia, na comunidade internacional,
não se consegue suficiente acordo sobre a responsabilidade de quem deve suportar
os maiores custos da transição energética.
Pag 128
*
O século XXI, mantendo um sistema de
governança próprio de épocas passadas, assiste a uma perda de poder dos Estados
nacionais, sobretudo porque a dimensão económico-financeira, de carácter
transnacional, tende a prevalecer sobre a política.
Pag 134
*
A salvação dos bancos a todo o
custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de
rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que
não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma longa, custosa e aparente
cura.
A crise financeira dos anos 2007 e 2008 era a ocasião para o
desenvolvimento duma nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma
nova regulamentação da actividade financeira especulativa e da riqueza
virtual. Mas não houve uma reação que fizesse repensar os critérios obsoletos
que continuam a governar o mundo.
Pag 144
*
O ambiente é um dos bens que os
mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente.
Mais uma vez repito que convém
evitar uma conceção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se
resolvem apenas com o crescimento dos lucros das
empresas ou dos indivíduos.
pag 145
*
Não é suficiente conciliar, a meio
termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio
ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento
do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir
o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo
melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar
progresso.
Pág 148
*
A mentalidade utilitária, que fornece apenas uma análise
estática da realidade em função de necessidades atuais, está presente tanto
quando é o mercado que atribui os recursos como quando o faz um Estado
planificador.
pág 150
*
É
verdade que, hoje, alguns sectores económicos exercem mais poder do que os próprios
Estados.
Pag 150
*
O referido paradigma faz crer a todos
que são livres pois conservam uma suposta liberdade de consumir, quando na
realidade apenas possui a liberdade a minoria que detém o poder económico e
financeiro.
A situação atual do mundo «gera um
sentido de precariedade e insegurança, que, por sua vez, favorece formas de
egoísmo coletivo». Quando as pessoas se tornam
auto-referenciais e se isolam na própria consciência, aumentam a sua
voracidade: quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de
objetos para comprar, possuir e consumir.
Pág 156
*
Trabalho ao domingo: "A lei do
repouso semanal impunha abster-se do trabalho no sétimo dia, «para que descansem
o teu boi e o teu jumento e tomem fôlego o filho da tua serva e o estrangeiro
residente»"
Pag 179
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